Coluna Linhas Cruzadas – Independente do Sonho
Coluna Linhas Cruzadas – Independente do Sonho
Sei ser, na rudeza das palavras que das pontas dos meus dedos saem, aquele proseador que ama a vida da simplicidade e das coisas puras. Versejador, eu? As vezes de improviso, aviso ao mundo que a necessidade de sonhar é chegado. Contar um sonho é mesmo que viver duas vezes em um só momento.
Herdei o bem de um cantador de coisas puras. Eles são anjos que descem a terra para dar ao mundo lições de vida.
Canto! Mesmo com a voz rouca e gasta pelo tempo, imito os sons dos curibocas, dos nativos, dos curumins, dos vaqueiros com seus aboios, dos sons das engenhocas que transformam a cana em caldo doce e fibras das Caianas verdes e douradas. A rapadura se fez pelo mexer constante do caldo naquele tacho enorme de cobre. Ouça outro cantar. Canto gemido dos cocais dos rodeiros dos carros de bois que choram pela distância percorrida, puxada pelas 2 juntas que entre mugidos dolentes arrastam, sob o sol escaldante, as coisas dos plantios.
E o ritmo? Ouça! O ritmo se faz pelos sons dos pilões que cadenciados num bater constante transformam o milho em fubá mimoso, que mais tarde vai para o caldeirão. Tudo é música e ela soa no crepitar das chamas das achas de lenha.
E o cantar da vida sai assim de forma rude, gemente como o triste arrulhar da pomba rola que desafia as lides descansando nas tardes quentes na copa de um Ipê Roxo, plantado com carinho pelo menino travesso que já se fez homem.
A música se faz pelo tempo dos sonhos que perseguem a beleza.
O peito exulta quando vem um sabiá contar para mim a história do seu tempo. Ela fala dengoso com voz de apaixonado que o setembro já se fez em sua vida e os primeiros ovos de sua companheira já estão sendo chocados. Promete-me ele que para o próximo ano uma sinfonia se ouvirá em coro da família. Estendo-lhe agradecido a mão levando ao seu bico uma talhada de mamão doce que nem mel fabricado pela Jatai, aquela que trago presa e protegida numa caixa de madeira lá na cobertura da cacimba cavada onde outrora se escondia um ninho de cobras peçonhentas. Sabiam que cobras fazem ninho onde as ondas vibratórias das águas são maiores? Coisas que falo e canto são apenas o meu linguajar de bugre que forma meu sangue.
Se não gostou do meu cantar me desculpe, pois vivo o sonho de amar, amar demais este chão bendito que me viu nascer guardando meu corpo mil raças distintas que sonham o sonho da liberdade que tardia. Crônica de um momento breve onde se escreve saudade.
ASTERISCO
*** Quero agradecer o plantão médico do Pronto Socorro da Santa Casa de LOUVEIRA pelo pronto atendimento que me foi oferecido na noite de terça para quarta feira passada. A preocupação médico-enfermagem e demais funcionários, preocupados com meu caso, deram-me todo o apoio. Fui acometido, e voltarei a falar num futuro próximo, prometo, sobre os cuidados que um idoso deve tomar com relação ao seu corpo e aos seus males. Este agradecimento expressa a minha admiração aos abnegados funcionários daquela Casa Santa. Que haja reconhecimento administrativo e que valorize e reconheça, também, o esforço do pessoal de sustentação da saúde. Deus os abençoe.