Coluna Linhas Cruzadas – O Presidente que marcou um tempo (parte 4)

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50 anos em 5 e o Presidente ‘Bossa nova’

Ele, JK, surpreendeu a todos os brasileiros. Amplo sorriso e fala entusiasmada arrastava multidões como um verdadeiro líder. Aquele menino que nasceu em lar humilde, pés descalços, sem o acompanhamento do pai, (diferente destes atuais que nunca leram um livro e se orgulham), fez dos estudos o caminho para o seu sucesso. JK cresceu como verdadeiramente devem crescer os homens sérios. Estoico, objetivo, dedicado, solidário, amigo e rígido cumpridor dos compromissos assumidos. Brasileiro diferente. Lembro-me. Foi num almoço lá no inicio das obras de Brasilia. Uma feijoada regada a uma pinguinha, talvez lá de Januária, animava o papo onde os muitos presentes e gente da imprensa se confraterniza. Lá, em meio a muitos, encontrei-me com Israelzinho, filho do Israel Pinheiro, e que foi  meu contemporâneo no ginásio. Eles eram donos de uma Agropecuária lá pelo Vale do Rio Doce e figura de destaque na politica nacional.

  A grande mesa rústica e o papo alegre foram a base do inicio de uma nova era para o Brasil. Oscar Niemayer, Saião, Burle Marx e outros nomes de expressão estavam presentes. Neste dia era lançada oficialmente a Pedra Fundamental para o  inicio das obras de Brasília. Fato histórico. Neste almoço alguém se levanta, bate no copo pedindo silêncio e fala algo que nunca esquecerei:  “-JK materializa o sonho de Washington Luiz de Governar de costas para o mar. Cumpre-se desta forma a profecia de Don Bosco. O Planalto Goiano abre-se para uma nova era deste nosso pais!” Fiz a anotação deste pensamento e nunca mais o vi reproduzido em parte algumas das histórias sofre a fundação de Brasília. Cumpria-se, desta forma o primeiro passo da promessa que fizera a um humilde eleitor naquele seu primeiro comício quando foi lançado candidato a Presidência da República. O homem que eternizou o “Peixe Viva”, (toada que gostava de cantar), passa para a história como o Presidente “Bossa Nova”, o novo ritmo que se expandia no fim dos anos cinquenta. Acompanhei toda a trajetória politica de JK e, à época, cobri muitos dos feitos do “Nonô Pé de valsa”, JK.

Politicamente os dias da sua administração foram, realmente, os mais agitados. A história registra e nós vivemos parte dela. Quem se lembra do levante de alguns oficiais da FAB como o Lameirão e Veloso. Dias difíceis ocorreram no levante traduzido como “Aragarças” e “Jacareacanga”. Lacerda incentiva a luta e o seu jornal A TRIBUNA DA IMPRENSA é o instrumento de incentivo a revolta. Era este grupo formado pelos radicais da UDN (União Democrática Nacional).

Brasília  vai tomando forma e se transforma no maior canteiro de obras já vivido pelo nosso povo em todos os tempos. Aos  montes brasileiros vindos de todas as partes deste imenso país se deslocava para o Planalto Central em busca de oportunidade. Nasce uma denominação para os que se aventuravam em busca de trabalho: OS CANDANGOS!

Mas administração de JK não se limita a futura Capital brasileira. Abre-se no Brasil as portas do desenvolvimento, estradas são rasgadas (como a Belém/Brasilia), a assistência médica é ampliada, o sistema ferroviário ganha outra dimensão e é em seu governo que se inicia o impulso para a indústria automobilística. Lembro-me quando JK vem a São Paulo para conhecer o primeiro carro inteiramente fabricado no Brasil, o Romi-Iseta. Lembro-me do celebre 18 de novembro de 1959 quando Jk desfila em carro aberto, acompanhado do presidente da VW inaugura a fabrica da famosa marca alemã em São Bernardo, SP, BR. Este o florescer de nossa nova indústria.

Uma observação histórica: JK foi, até hoje, 2016, o mais liberal de todas as personalidades politicas brasileiras.  Homem de uma simplicidade e de uma humanidade sem precedentes. Lembro-me e me orgulho: Eu trabalhava na Sucursal do “Diário Carioca” (BH) e me iniciava no campo jornalístico. Estávamos as vésperas de um Natal. Além de fazer a cobertura policial eu era o encarregado de levar o jornal do dia nas residências dos políticos em BH.  Como já contei que eu deixava para entregar o exemplar para JK sempre o deixava por último. Já era frequentador habitual da sua residência. Entrei pela cozinha e já me encontrava na copa para tomar um café reforçado, fato que ocorria quase que diariamente. Na segunda mordida no pão entra JK. Abre um sorriso e diz-me: “Café para ser gostoso tem que ser tomado na cozinha!” Rimos, ele bate nas minhas costas e diz-me: -“Vim lhe desejar um Feliz Natal”. Surpreendeu-me. Coloca no bolsinho da lapela do meu paletó alguma coisa e me dá um abraço. Assim era o Nonô: despido de orgulho e fantasticamente humano.

Continua

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