LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’

Sacode a poeira

Os dias têm sido felizes, uma felicidade peculiar, mas com certeza, uma felicidade e agradecimento por estar vivo e com saúde. Também por poder dar umas voltas em tempos revoltos, uma volta de uns quarenta e oito minutos, a de hoje. Por necessidade médica fui ao Posto de Saúde do Centro de LOUVEIRA, aquele próximo à Igreja de São Sebastião, a mesma que visito e tiro muitas fotos, desta vez não foi diferente. Visitem quando for possível, é linda no sentido total da palavra. A Paz é mais linda, pois dentro da igreja me esqueço por alguns momentos da turbulência do lado de fora. Rezo uma Pai Nosso e meu coração se alegra e se anima para prolongar essa minha estada fora de casa.

Sigo então o meu instinto, tudo dentro dos conformes, sozinho no carro e quando desço, coloco a máscara que, acredito que somente hoje aprendi de fato a colocar de maneira que não incomode. Fiquei feliz com o resultado. Segui pela estrada que passa pelas terras que eram da Família Martins, desci aquela ladeira onde moravam pessoas tão queridas, aquelas pessoas inesquecíveis da minha infância. Claro que para quem não conhece LOUVEIRA pode ficar muito vaga a minha descrição, então colocarei a DHL próxima à Rodovia Anhanguera como referência, Estrada da Cruz Grande, para ser mais específico.

Andando pelas estradas de terra, muita poeira, música alta no rádio, cantando em inglês, “Go West com Village People” segui feliz. Encontrei alguns carros que aumentaram a poeira e, mesmo assim, por pirraça ou por orgulho besta, igual, na minha opinião, aos que andam pelas ruas sem máscaras, fui dirigindo com os vidros abertos até chegar onde eu realmente queria chegar, ou seja, nesta capelinha construída ou inaugurada em 16 de setembro de 1943, conforme inscrição acima da porta de entrada. Desci do carro, mais poeira, alguns curiosos que aopassarem viravam o pescoço ao perceber a minha figura em meio à poeira, fotografando aquela construção tão abandonada à sua própria sorte. Me diverti com isso.

Bem, segundo o que sempre ouvi, essas capelas em beira de estrada, são construídas onde pessoas são mortas, assassinadas e, na maioria das vezes, não se constroem essas capelinhas, mas sim, se colocam cruzes como indicação do fato ocorrido. Existem muitas pelas estradas do Brasil, mas aqui em LOUVEIRA, não me lembro de outras. Num primeiro momento dá uma certa apreensão, uma vontade de saber quem foi ou foram as pessoas que mereceram tais homenagens, digo homenagens por que além da cruz, haver muitas imagens de santos, todas cobertas de poeira, algumas quebradas, mas todas, ao que parece, com um sentido de religiosidade, de homenagem às almas que ali desencarnaram. É interessante de ver.

Indo embora, dentro do carro, ainda mantendo a curiosidade em relação às pessoas que por ventura estão sendo lembradas de alguma forma até hoje, penso se à noite essas almas se encontram e conversam ali naquele local. Já constatei que à noite fica muito mais sombrio por ter passado ali à noite e ter essa sensação, porém, não acredito em fantasmas. Por isso qualquer noite dessas, não por um desafio idiota, mas sim por uma curiosidade passarei por lá novamente, fotografarei e postarei no meu facebook, como um registro apenas. Não quero ser mórbido e nem parecer um desrespeitador, somente quero compartilhar um momento numa noite numa estrada empoeirada. Torço para que esteja ventando na noite em que eu voltar lá. O vento aumenta o medo e dá arrepios na gente.

Trilha SonoraRomance de Duas Caveiras – Alvarenga e Ranchinho

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