LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’

Em qualquer tempo

Em tempo de pandemia, já houve várias desde que o mundo é mundo, mas especialmente esta, em que se cumpre, ainda que de maneira precária, o isolamento social, que nos atinge agora, quando há uma saidinha para algum refresco momentâneo, tudo fica mais bonito, mas a meu ver e sentir, um tanto mais melancólico. Aqui em LOUVEIRA, as coisas caminham de maneira um tanto quanto regradas, mas com alguns céticos, os de sempre, em relação aos fatos correntes. Muita gente é do contra, assim, não há novidade nisso, e há também os que são favoráveis a tudo, desde que combinem com as suas formas de pensar. Ciência aparentemente passa longe desses dois grupos.

Mas voltemos ao que me chamou a atenção numa tarde dessas… devidamente mascarado, com distanciamento seguro e ao ar livre, fatores que me fizeram pensar de maneira aleatória sobre a Estação Ferroviária de LOUVEIRA e na sua história, que pelo meu testemunho, sempre foi uma história rica. Neste caso, por ser dezoito horas, que confirmei ao me lembrar que ouvia ao longe a Ave Maria que é difundida em alto e bom som pela Igreja de São Sebastião, aqui no centro da cidade, onde também me encontrava.

O final de tarde, quase noite, quando estou ao ar livre e tenho o vislumbre do espaço ao meu redor, sempre me remete a outros anoiteceres, sem uma ordem cronológica, e desta vez não foi diferente. Pensei num devaneio em quando a estação operava a pleno vapor, nas pessoas em grupo ou sozinhas que iam até o local para embarcarem, esperarem os que desembarcavam, para paquerarem ou ainda somente para ver o movimento, mas todos iam a um mesmo local com movimento de pessoas e um burburinho de sons e cheiros misturados. 

Então, me veio à memória que há muito tempo, quando eu estava na estação com destino a São Paulo, pela Litorina, um trem lento e muito agradável, havia também uma família com o mesmo destino que me chamou a atenção. A mãe, jovem ainda, muito elegante, numa calça jeans, blusa cor de cobre e jaqueta de couro meia estação de cor preta, num corpo esbelto, que fazia com que o vestuário lhe caísse perfeitamente. de vez em quando tocava a mão do marido de leve, como num gesto de carinho espontâneo.

Já o pai, um jovem senhor muito bem apessoado, com calças jeans muito azuis, camisa branca muito alva de mangas compridas e sapatos mocassinsmarrons, sorria com os olhos gentis em retribuição aqueles toques sutis da esposa, em suas mãos. Naquele tempo, havia um pudor em certas demonstrações afetuosas em público. Também havia o casal de filhos, impecavelmente vestidos em acordo com a idade; o menino, uns oito anos era de um comportamento introspectivo, que não saía do lado dos pais, mas mesmo assim ousou pedir um algodão doce ao “homem do algodão doce”. A menina, ao contrário, com seus aparentes onze anos era o oposto, a tudo olhava e observava, conversou com um outro casal e seu filho, aparentemente com a mesma idade, e sorria apontando para os seus pais. Neste momento, ouvi o apito do trem, que parando, embarcamos todos para os nossos destinos, e assim a história de cada um continuou…

Trilha Sonora / O Trem das 7 / Raul Seixas

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