LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’
Observar não é enxergar, mezanino ou não, foi pro chão
O desmanche de uma obra sempre causa, pelo menos para mim, uma agonia, especialmente se esta obra fez parte da sua vida. Dói no coração, pois foi neste local, o famoso Terraço dos Resedás aqui em LOUVEIRA que eu até ontem chamava erroneamente de mezanino, que vivi muitas alegrias, seja na parte festiva ou cultural, ou até mesmo, por que não dizer, na parte social. É, pois ainda está ali, o local onde se conversava sobre tudo e sobre quase todas as pessoas que tinha relevância em nossa cidade. Na verdade se falava de todos, pois aquele lugar tinha a magia de tornar a todospessoas importantes, como deve ser. Cada um dentro do seu viver e do seu fazer, é relevante sim, seja o dentista, o bancário, o garçom, o dono do restaurante, o padre, o mendigo, a freira, a cuidadora de idosos, a professora, a psicóloga, o padeiro, a florista, o cão com ou sem dono, ou qualquer ser que rodeasse aquelas tábuas e madeiras tão surradas pelo tempo. Socorro Renatinha!!!
Surradas aqui, neste texto, é para ser um elogio, uma forma carinhosa de dizer que o tempo passou e deixou as suas marcas. Não se percebia a olho nu que o terraço estaria condenado e, foi somente antes do Carnaval que foi colocado alambrado em sua volta como uma forma de impedir que um montão de gente se apinhasse para ver o desfile de Carnaval aqui de LOUVEIRA. Diga-se de passagemum carnaval bem legal, se não pelo luxo dos carnavais mais elaborados, mas sim pelo clamor popular que o carnaval desperta na população daqui ou da região. Também há outros eventos durante o ano em que o terraço fica lotado, digo, ficava lotado por muitas pessoas para desfrutarem dali de cima, com uma bela vista, a evolução de tal evento.
Agora, o que resta é apreciar a demolição, que soa bonito somente na música, mas na realidade soa bem feio e triste, se o dia estiver nublado então, fica muito mais triste. Claro que pra tudo há uma explicação que, convence ou não, mas até agora não prestei atenção em nem uma, pois meu coração e cérebro se recusam a ouvir, estou negacionista. Ando pra cá e pra lá e busco com afinco através das minhas retinas um ângulo agradável para alguns registros, mas encontro somente a tristeza de uma tábua a menos a cada olhada. Se tivesse coragem perguntaria as autoridades em que se transformará aquele espaço tão aprazível até anteontem, mas a coragem me falta, pois posso não gostar do que ouviria. Aí sim, seria mais triste ainda. Mas por outro lado poderia ouvir algo que me agradasse, pois sou um otimista e mesmo sendo um otimista, não crio coragem.
Não quero que o resultado de um projeto seja o leme do meu voto por entender que uma cidade é muito mais que um terraço, no entanto, tudo pesa na hora de votar e, num lapso de tempo e nostalgia, se digita um outro número por puro desalento. Não quero e, por não ter forças para impedir, por enquanto só penso que carros ou máquinas não deveriam ocupar aquele lugar, por entender que aquele lugar é para as pessoas, para juntar gente, para se apreciar o trem passar apitando numa saudação aos que ali estejam. LOUVEIRA merece um outro terraço, outro na forma, mas no mesmo lugar. Eu torço para que LOUVEIRA receba o que seja melhor para a sua população, aqui falo de pessoas e não de máquinas.
Trilha Sonora / Construção / Chico Buarque