LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’
És ninguém?
Nossos idosos em especial, e muitos outros de qualquer faixa etária se sentem, segundo ouço por aí pelas bocas deles próprios, como fósforos queimados, ou seja, não têm mais serventia, pelo menos para as atividades principais, pois já foram usados e agora são descartados. Claro que nossos idosos hoje em dia, principalmente aqui em Louveira, pelo que acompanho, têm uma vida ativa, uma vida com muitos afazeres, ainda mais se pertencerem à “terceira idade”. Mas existe ainda um grande número de pessoas, tais quais esse fósforo, que são abandonadas por aí, diferentemente deste fósforo, que pelo menos foi abandonado num lugar muito lindo, a Estação Ferroviária de Louveira.
Essas outras pessoas são abandonadas em qualquer lugar, ou até internadas à revelia para que os seus bens sejam usufruídos pelos seus usurpadores. Muitas vezes lobos em peles de cordeiros. O mundo evolui e os tempos atuais, na minha opinião, são bem melhores que o passado, embora citemos amiúde que “antigamente era melhor”. Na verdade, éramos jovens e por isso tudo parecia melhor, por termos menos preocupações, tais quais os jovens de hoje.
Hoje temos tanto a nosso favor em todos os setores, mas reclamamos de muita coisa, em especial da falta de educação dos jovens, coisa que nossos pais também falavam de nós em relação as gerações anteriores, a história se repete sempre, tudo dentro dos parâmetros do tempo em que a história acontece.
A vida continua de acordo com os acontecimentos do hoje, e, seja este hoje em que tempo for, sempre será hoje. Ao me levantar do banco dei uma olhada no fósforo queimado, e fui caminhando sem olhar para trás; aqui não consigo explicar por ora o motivo de eu não olhar para trás. Posso especular que se olhasse para trás não teria coragem de deixar aquele fósforo queimado ali, em cima daquele banco a mercê do tempo e de tudo que o cercava. Um pouco mais distante pensei em como se sentiria uma pessoa que abandona um animal numa estrada ou uma pessoa em qualquer lugar. Depois repensei e calculei por minha conta e risco que uma pessoa que abandona por livre vontade um ser vivo não pensa como os que não abandonam, apenas deixam a criatura lá e vão tomar uma cerveja com os amigos, discutir futebol ou política na mesa de um bar e, quando chegam em casa dormem o sono dos justos. Mas como tudo é por enquanto, um dia a conta vem. Acredito.
Trilha Sonora / Fósforo Queimado / Ângela Maria
