LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’

Belmira Flávia de Miranda

Minha mãe, com aqueles olhos verdes sempre foi bonita e possuidora de uma alegria discreta, que as vezes se assemelhava a tristeza, mas não era triste, apenas se aprofundava nos dramas diários e ficava ali, parada e pensativa, sentada na poltrona da sala em frente à televisão e, como fazem todas as pessoas generosas, sorria para nós, seus filhos. Tinha sonhos a minha mãe, que sempre sonhou com uma casa grande, sem perceber que o seu coração abrigava a maior das moradias, ali morava o amor. LOUVEIRA foi o local onde ela passou dias felizes, onde presenciou o crescimento dos netos, os filhos tomando prumo na vida, uns mais aprumados que outros, ouso dizer que sempre fui o menos aprumado. Vivíamos bem, me lembro dela cantando com o meu pai que tocava cavaquinho, os dois felizes entoando “Moreninha Linda”, era bom de ouvir e, somente muito tempo depois, percebi que era amor que os unia, que nos unia. Todos, pelo que sei, tínhamos e temos medo de temporal, ventania, para ser mais exato, e ela, em sua sabedoria, quando via um temporal se armando e estava sozinha em casa, ia ao ‘Mercado do Luís da Padaria (Oliveira)’, morador aqui de LOUVEIRA também, pessoa da qual ela gostava muito, e ficava lá, no mercado, até o temporal passar. Minha mãe, como boa mineira, era discreta e não afeita a falação, conhecia a vizinhança e gostava de todos e, pelo que ouço até hoje, também era muito querida. Lavava as nossas roupas como ninguém, fazia aquela comida deliciosa e aquele macarrão bem vermelho, típico dos domingos em família, aquele molho que grudava mesmo e, todos que chegassem, naqueles dias, comiam com vontade e à vontade, como em toda casa amineirada. Naquela época era comum a visita dos parentes, que se visitavam com mais frequência, ficavam bem mais tempo que o planejado, todos se ajeitavam e a vida seguia feliz, e minha mãe, sincera de coração, gostava. Ela também gostava muito de pescar e pescava sempre no tanque (lago), lá no sítio do meu cunhado, pessoa da qual ela gostava e considerava muito e que sempre elogiava, pois ele com toda a paciência sempre arrancava minhocas, nas parreiras de uva para ela pescar. Naquele tempo, pouco se falava de vôlei e, pela televisão, raramente havia transmissão de um jogo, mas quando havia um jogo que seria transmitido, eu e ela assistíamos comendo bolo de fubá que ela preparava. Era mágico! Nunca me esqueci que os jogos eram transmitidos pela TV Bandeirantes, com locução do Luciano do Valle, que era fantástico. O tempo passou, as lembranças ficaram para nós que ainda estamos aqui em LOUVEIRA, pois minha avó Benedita, meu pai José Batista, minha mãe Belmira e meu irmão Luiz não, por estarem sepultados em VINHEDO. Minha mãe desencarnou com a suavidade das almas boas, sem transmitir dor e com o rosto bonito, como sempre fora. Nós, seus filhos, Maria Antonia, Luiz (in memorian), João (eu), José Carlos e Aparecida quando falávamos/falamos dela, em todas as nossas palavras existe a certeza da bondade da sua alma. Na foto utilizada, arquivo do meu irmão José Carlos, ela está com o Junior, filho dele, que hoje é moço e dono de um bar que se chama Amélia´s, no Centro de LOUVEIRA. Não tenho como cravar se ela gostaria ou não do bar, mas com certeza posso afirmar que ela torceria pelo sucesso dele e de todos os netos.

Trilha Sonora / Cana Verde / Tonico e Tinoco

 

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