LOUVEIRA: Coluna de João Batista – Louveirando

Pela porta aberta ou Uma imitação de Clarice

Uma visita é sempre uma visita e eu que quase não convido ninguém para a minha casa, fiquei feliz com essa visita. Ele entrou porque a porta estava aberta e como não é ligado em etiquetas, não viu problema nisso. LOUVEIRA a cada dia que passa, mirando o verde-esperança da nossa bandeira, clama por espaços onde se possa pousar tranquilamente e gorjear. Não teve medo, apenas foi andando pela casa, como se fosse dele, ainda bem que as gatas não estavam por ali. Agora, pretensioso que sou, deduzo a versão de Clarice Lispector:“Era outono neste país grandioso chamado Brasil, e, numa pequena cidade, pequena no sentido de extensão territorial, num quintal dessa cidade, cujo nome é LOUVEIRA, somente um pássaro, entre muitos outros percebeu uma porta aberta e entrou na casa. Ele, o pássaro, observou uma casa simples, uma pessoa deitada no sofá assistindo tv, se ele soubesse distinguir a programação, poderia dizer que estava passando uma sessão do Supremo Tribunal Federal, que julgava, com um certo fervor o habeas corpus do Deputado Paulo Maluf, criatura amada por muitos, inclusive pessoas de bem e odiadas por outros, também pessoas de bem. O pássaro em sua infinita ingenuidade pensaria que neste país, e consequentemente nessa cidade, só têm pessoas de bem. O pássaro era um pardal, ave considerada daninha por muitas pessoas de bem, mas por não estar interessado em pessoas, muito menos nas de bem, fez um tour pela casa, sempre bicando o chão, o que denota que, nesse chão poderia haver comida. Será que esse pássaro, em suas andanças, saberia que nesta semana, dia dezenove, foi o dia do índio? Será que ele sabe o que é um índio? Não sei, pois nem nós sabemos o que seja um índio, apenas admiramos o desembarque do Cabral, que errou o caminho e aportou nessas terras, em que, dizem, plantando tudo dá, apesar das saúvas. Nesse ponto me lembrei que os pássaros poderiam comer as saúvas, e, seriam a salvação dessa pátria, tão alvejada por caravelas e Cabraisque ostentam brincar de pirata e saquear nosso ouro negro, bem como transportar na cacunda dos burros, os bens adquiridos de forma tão pitoresca. Paris é logo ali! O pássaro finalmente alçou voo sem dizer adeus ou obrigado, e sem nenhuma culpa, alcançou o espaço, olhando de cima essa terra chamada LOUVEIRA. A foto não ficou tão boa, no que diz respeito à técnica, mas com certeza ficou excelente em relação ao propósito de se registrar um fato.”  Agora eu seguirei louveirando e finalizo dizendo a todos com um certo temor que os pássaros existem por merecerem existir. Na dúvida, olhem os lírios dos campos…

Trilha Sonora / Horizonte Aberto / Gracinha Leporace

468 ad