LOUVEIRA: Coluna de João Batista – ‘Louveirando’
O Amor nos fará livres
Dando um passeio numa tarde quente e com ameaça de chuva, aqui em LOUVEIRA tem chovido muito, avistei na calçada da Avenida José Nicolau Estábile uma senhora que levava um animalzinho nos braços, num andar surpreendente rápido e com os olhos voltados para aquele ser que parecia sofrer. Ela também pelo que pude perceber, sofria muito, nunca me esquecerei desta cena. Não tive dúvida, retornei com o carro, parei bem ao seu lado e perguntei a ela o que estava acontecendo. Ela de pronto e um tanto surpresa respondeu que estava levando o cachorro ao veterinário, por sentir que ele, o cachorrinho, não estava passando bem.
Sem titubear pedi que ela entrasse e se sentasse no banco da frente ao meu lado, e ela, com a agilidadedos aflitos, também não titubeou e se sentou ao meu lado com o cachorrinho no colo. O cachorrinho espirrava e os olhos lacrimejavam, mas pelo que senti, estava totalmente protegido por aquele abraço carinhoso, ou melhor, amoroso. Puxei assunto, aliás, o assunto já estava ali e eu apenas tive que perguntar o nome dele, no que ela, a senhora,respondeu: “Dedé”. E logo em seguida começou a contar o histórico do Dedé, num tom de nostalgia amorosa, disse que ele já estava velhinho, que sofrera há uns meses um infarto, mas que como fora socorrido a tempo, sobreviveu. Pelo que entendi nas entrelinhas, a qualquer sinal de doença, ela, a senhora, não mediria esforços para socorrê-lo. Fiquei feliz e emocionado com esta constatação.
“Mas a senhora ia levá-lo ao veterinário a pé” indaguei. Ela disse que sim, que desta vez não encontrou ninguém para levá-lo, como da vez anterior em que o vizinho levou. Somente para esclarecer, ela teria que andar a pé mais de dois quilômetros, da casa dela até o veterinário, sendo que ela mora no bairro do Quebra, Santo Antonio, e o veterinário fica em LOUVEIRA, próximo à Santa Casa, mais próximo do centro da cidade. O trajeto de carro durou uns quinze minutos até chegarmos ao veterinário. Não sei o nome da senhora e nem sei se ela colocou o cinto de segurança, coisa que exijo de todos, pois não saio com o carro enquanto as pessoas não estiverem com o cinto. Pensando assim agora, acho que ela colocou o cinto.
Nos despedimos em frente ao veterinário e ela me agradeceu daquela maneira sincera das pessoas sinceras, perguntando “quanto é?”, “tá tudo certo”respondi. Ela continuou me agradecendo e tambémdesejando que Deus me abençoasse pela minha atitude. Pena que, por te um outro compromisso logo em seguida, não pude esperá-la. Enquanto voltavapra casa pensei na bondade daquela senhora e no quanto havia aprendido naquela tarde. Alguns poderão dizer que era apenas um animal, que tantas pessoas sofrem, o que em parte é verdade, pois de fato muitas pessoas sofrem, inclusive aquela senhora que ama os animais.
Muitos dos que criticam quem cuida dos animais, não fazem nada pelos animais e nem pelos seres humanos, tenho visto acontecer. Diante disso concluo que não era apenas um animal e, como diz a canção composta por Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho em homenagem à Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que está com um samba-enredo impecável este ano, “A vida não é só isso que se vê. É um pouco mais…”
Trilha Sonora / Oração de São Francisco / Joana