LOUVEIRA: Saúde de Louveira continua doente. Excesso de grana? Ou má administração?
É o que parece. Intoxicação por excesso de milhões mal aplicados. Se compararmos LOUVEIRA com outras cidades da região, a exemplo de Jundiaí, VALINHOS e VINHEDO, é possível observar a disparidade entre o volume de dinheiro que é destinado ao funcionamento das respectivas Santas Casas e o serviço médico hospitalar que é oferecido à população. A Santa Casa de VALINHOS, por exemplo, para atender uma população em torno de 110 mil habitantes, recebe cerca de R$ 800 mil por mês e oferece 121 leitos de enfermaria, 20 leitos de UTI, um moderno Centro Cirúrgico capaz de realizar inclusive delicadas intervenções cirúrgicas cardíacas, um Pronto Atendimento que é referência da cidade, além de alimentação de qualidade tanto para os pacientes como para o corpo de funcionários.
APENAS 800 MIL
O atendimento SUS é equiparado aos convênios com todo o conforto para os pacientes. Possui também farmácia popular e lanchonete, e a despesa mensal está em torno de R$ 4 milhões, sendo que o SUS é responsável por 60% dos recursos. O restante vem dos convênios e da Prefeitura (R$ 800 mil). Apesar de ser um hospital de média complexidade, a Santa Casa de VALINHOS conta com equipamentos de última geração para exames de tomografia, ressonância, laboratório próprio, fisioterapia, maternidade, pediatria, berçário, com os quais atende a quase todas as cidades da região, inclusive pacientes da periferia de Campinas.
RETOMADA DA SANTA CASA
Enquanto a Santa Casa de VINHEDO, com uma população em torno de 70 mil moradores, segundo a Prefeitura, está em processo de reforma e ampliação para ser dotada de 10 novos leitos de pediatria para internações pelo SUS (Sistema Único de Saúde), convênios e particulares, além do pronto atendimento de pediatria 24 horas para conveniados e particulares, pediatria 24 horas. As reformas e ampliações, em andamento mudarão o atendimento da UTI de 6 para 11 leitos e de Centro Cirúrgico, de 3 para 5 leitos, além de lavandeira, salas de pequenas cirurgias, endoscopia, 20 leitos de longa permanência e outros dois para psiquiatria. A Santa Casa contará também com berçário, praça de alimentação, hotelaria de alto nível. Atualmente os 102 leitos de enfermaria e 10 UTI, enquanto está em andamento a abertura total do nosocômio, estão sendo disponibilizados à população no hospital Galileo, em VALINHOS, ao custo de R$ 1,2 milhão mensais.
MELHOR ATENDIMENTO
A cidade de Jundiaí, com cerca de 360 mil habitantes, conta com dois hospitais para o atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS): São Vicente de Paulo e Hospital Universitário. Todos com área física e de hotelaria adaptadas para oferecer mais conforto à população e melhores condições de trabalho aos profissionais. Com 241 leitos de enfermaria e 40 de UTI, o Hospital São Vicente recebe cerca de R$ 2 milhões por mês e presta um dos melhores serviços de atendimento médico hospitalar da região. Mas a cidade também dispõe de policlínicas instaladas nos bairros para dar suporte ao serviço de urgência e emergência. No atendimento básico, são 30 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e seis Unidades de Saúde da Família (USF) que oferecem serviço nas áreas de pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica médica e, em algumas delas, odontologia.
PIOR ATENDIMENTO
E LOUVEIRA? O que acontece com a ‘pobre cidade rica’, com cerca de 42 mil habitantes, pobre vítima de políticos inescrupulosos que só pensam em botar no bolso o milionário orçamento da cidade, mas rica em arrecadação e oportunidades? Na área da saúde, a Santa Casa, único hospital do município, anda com a obra de ampliação inacabada, iniciada em 2012 e que já consumiu mais de R$ 8 milhões, que corre risco de ter 85% da construção demolida por causa de falhas estruturais, segundo a direção do hospital. A informação é baseada no laudo de uma empresa contratada pela Irmandade e especializada em construções hospitalares, que indica aproveitamento de apenas 15% da fundação. O assunto está sendo investigado por uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) instalada pela Câmara Municipal.
Mas o projeto do ‘Anexo’ prevê uma ala de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com seis leitos, além de 29 novos leitos do pronto-socorro, quatro salas cirúrgicas e duas de parto. Atualmente a Santa Casa funciona com 41 vagas de internação, zero de UTI, o que tem causado várias mortes evitáveis, e possui unidade para casos graves. Porém, para manter o funcionamento do antigo hospital são disponibilizados mensalmente cerca de R$ 2.290 milhões. Segundo a atual administradora hospitalar, Elaine Martins, “além do hospital com os serviços de urgência, emergência e maternidade, também são gerenciados os serviços do 192 (Resgate), ambulatório de especialidades e o Pronto Atendimento (PA) do bairro Santo Antônio”.
Elaine explica que a verba do SUS não é suficiente, portanto, a verba da Prefeitura, por um bom tempo ainda, é que torna possível o atendimento à população do município, em torno de 12 mil pessoas por mês, contando apenas com 4 Unidades Básicas de Saúde (UBS). “Buscamos a sustentabilidade, mas tem pouco tempo que saímos da intervenção da Prefeitura, o que deixou engessada a possibilidade de convênios e verbas de outras esferas, assim como novos serviços, como plano de saúde, para buscar uma gestão sustentável. As outras Santas Casas contam com um tempo muito maior para que hoje possam apresentar certa independência com relação às verbas municipais”, justifica Elaine, que não explicou em detalhes por que LOUVEIRA gasta tanto em Saúde, mas nada se vê aplicado de verdade. Para onde vai tanto dinheiro?
Louveira anda mesmo muito mal de saúde. O povo que o diga.
Parece que o provérbio popular ‘A grama do vizinho é sempre mais verde’ definitivamente não se aplica no caso de LOUVEIRA quando levamos em conta o orçamento per capita do município em comparação a outras cidades, como VINHEDO e VALINHOS. A grande arrecadação das terras louveirenses proporciona incríveis R$ 10.701 por habitante, enquanto nos vizinhos, o orçamento per capita é de R$ 6.080 em VINHEDO e de R$ 4.175 em VALINHOS. O que deveria ser motivo de comemoração, na verdade expõe uma séria contradição em LOUVEIRA, temos muito dinheiro público para ser investido, o suficiente para que a cidade fosse modelo em qualquer área ou setor, mas o que se vê são serviços precários e limitados, projetos inacabados e malfeitos e a total falta de noção e planejamento no que se refere ao crescimento da cidade e às necessidades da população. Ou seja, ‘a nossa grama é mais verde’, mas para o quê mesmo? Quer um exemplo clássico? Os serviços de saúde.
A área recebe o 2º maior percentual de recursos previstos no Orçamento anual, perdendo somente para educação, mas o que temos são serviços precários, demora e péssimo atendimento. Reclamações e avaliações negativas não faltam na Ouvidoria da Prefeitura, que foi criada no ano passado para ‘medir’ a insatisfação dos usuários em relação aos serviços público. E a Administração acha bonito divulgar que nos primeiros meses a Ouvidoria recebeu 500 reclamações e/ou sugestões. Muitas reclamações mostram que o atual sistema não está ‘bem das pernas’ e continua ruim!
ERROS DEMAIS
A cabeleireira Alexandra Martins, moradora do Centro, está indignada com o tratamento que vem recebendo tanto na Unidade Básica de Saúde (UBS) quanto na Santa Casa nos últimos meses. Sua mãe tem Alzheimer, depressão crônica e problemas de mobilidade. “Marquei duas vezes carro para vir buscá-la para fazer os exames necessários e eles simplesmente não apareceram. Tive que correr atrás de quem pudesse me dar carona para levá-la aos exames previamente marcados. Uma vergonha. E sabe qual foi a desculpa? ‘Houve um erro na anotação’. Assim já é demais, né!”, reclama.
E a coisa não parou por aí. Ela contou que precisou de atendimento de emergência para a filha que estava com febre e passando muito mal, mas quando chegou à Santa Casa, desanimou ao ver a sala lotada de crianças. “Só tinha um pediatra e o mesmo parou o atendimento por causa de um parto. Ou seja, tivemos que esperar terminar o parto para poder ter a consulta”, contou. Foram no mínimo três reclamações na Ouvidoria da Prefeitura. “Lutei muito para conseguir fazer exame de tomografia na coluna. Tive que dar uns gritos lá, de tão nervosa que fiquei. Imagina uma pessoa dia e noite com dor e a coisa sem andar. Desde outubro aguento essa situação e até hoje (último dia 29) ainda não consegui um diagnóstico”, lamenta
E nem da dengue a saúde louveirense parece estar dando conta. Uma dona de casa, que não quis se identificar, por medo de represálias, contou que ela e o filho, depois de apresentarem os sintomas de febre diária persistente e dor no corpo, passaram horas esperando para fazer exames de sangue na Santa Casa, por dois dias seguidos. A dengue foi descartada, mas o mal-estar continuou. “Resolvi então ir para VINHEDO, onde o diagnóstico foi preciso: era dengue. Já pensou se ficasse em casa esperando?”, declarou.
MÉDICOS INSATISFEITOS?
É com descaso que os pacientes estão sendo tratados pelos profissionais da medicina que ainda estão trabalhando na atual Administração. Talvez insatisfeitos com as condições de trabalho, supostamente, o motivo principal para a debandada geral dos seus colegas, os médicos que ficaram, por acúmulo de trabalho não conseguem atender aos pacientes de maneira adequada, o que coloca em risco a vida das pessoas com problemas de saúde.
Eu, como moradora e jornalista da cidade, também passei por maus momentos em um atendimento emergencial na Casa de Saúde. Com muita dor no estômago, suando frio, dor de cabeça e muita ânsia, cheguei às 10h. Meia hora depois ainda não tinha sido chamada pela enfermeira que faz o pré-atendimento e dá as pulseiras de acordo com a classificação de risco. Levantei-me do banco e cobrei ser chamada na enfermagem. Na sala de espera, alguns pacientes, que não quiseram se identificar, comentaram que estavam aguardando há mais de 1h30. A revolta estava estampada na cara de quem precisava de cuidados e não conseguia.
Depois foram mais 40 minutos de espera pelo médico clínico, que indicou a administração da medicação intravenosa. Passados mais de 30 minutos sem ser atendida, com dor e cansada, me levantei já em lágrimas de raiva e frustração e fui embora. Passei na farmácia, comprei um remédio para a dor (o mesmo que iriam administrar no hospital) e fui para casa almoçar e depois trabalhar, sem atestado mesmo, já que o médico que me atendeu foi ‘embora’ e não o vi mais pelos corredores.
PREVENÇÃO DIFÍCIL DE SE FAZER
A Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro não fica atrás. Para fazer um simples exame de sangue é preciso ficar na fila bem antes das 7h, quando abre a unidade, no frio. Depois, aguardar no mínimo uma hora para ser chamado para a coleta. Mães com filhos de jejum, muitas vezes resfriados, e idosos aguardam pacientemente a sua vez. Ninguém quer seu nome publicado no jornal. “Aqui as pessoas que reclamam são perseguidas e podem se dar mal”, me avisa um dos usuários.
Outra ‘bagunça’ flagrada pela reportagem no último dia 30 foi o renovação do cartão do INSS na UBS Centro. Uma pessoa apenas para atender. “Cheguei aqui com a minha esposa às 9h e até agora nada (já era um pouco mais de 10h). É uma vergonha. Tenho 80 anos e tenho que passar por isso. Cadê o atendimento preferencial?”, reclamou o aposentado Augustinho C. Depois de expressar sua indignação veio logo perguntar: “Mas isso vai sair no jornal? Vai sair o meu nome? Não quero confusão”.
Penso e defendo o contrário: é preciso que a população se manifeste sobre sua insatisfação com relação ao sistema de saúde da cidade para que consigamos manter a Santa Casa atendendo adequadamente, ao contrário do que acontece na cidade vizinha, VINHEDO, e garantir um atendimento digno nas UBSs no preventivo.
OUVIDORIA
A Ouvidoria criada pela Prefeitura no final do mês de janeiro de 2013 atua especialmente em assuntos como irregularidades administrativas, fatos graves contrários às leis vigentes, deficiência do serviço público, sugestões de melhoria dos serviços, informações e outros quesitos que a população observe e anseie. O órgão já atendeu mais de 500 dúvidas, reclamações, denúncias e sugestões de louveirenses via e-mail e telefone nos primeiros três meses de início do serviço.
Á frente da divisão desde a sua criação, o chefe Jean Nascimento, acredita que a iniciativa é um avanço. “Encaminhamos todos os contatos aos órgãos responsáveis, secretários e chefes de divisões que, de prontidão, buscam soluções demonstrando respeito ao cidadão louveirense”, comemora Jean Nascimento. Segundo Jean, o atendimento é gratuito e as reivindicações podem ser formuladas por escrito e entregues ao departamento que fica dentro do Paço Municipal, ou diretamente na página oficial da Prefeitura, na internet (www.louveira.sp.gov.br), no campo “Fale Conosco”. Outra opção é pelo telefone exclusivo da Ouvidoria: 0800 7722245. A ligação é gratuita.
Afirma a assessoria de imprensa da Prefeitura, por e-mail: “Desde 11 de fevereiro quando começamos com o programa Ouvidoria Itinerante, atendemos uma média de 12 pessoas por localidade. Muitas pessoas buscam informações, outras reclamam dos problemas de seus bairros e outras sugerem melhorias em áreas como: esporte, lazer, rondas policiais, melhorias no transito, etc. mais específica dos bairros. Transporte público é bem solicitado pelos moradores, de locais mais afastados e também creches. Nossos canais de atendimento são a internet (e-mail) telefones 0800 772 2245 e 3878-9705 e também pessoalmente na sala ao lado da Recepção no Paço Municipal”.
SEM MÉDICOS, O CAOS
Para ajudar a situação a ficar mais caótica, o processo seletivo simplificado realizado pela Prefeitura em maio do ano passado para cobrir vagas na saúde terminou na última quarta-feira, sem direito a nova prorrogação. Foram contratos na época, nessa seleção, cinco médicos clínico geral, cinco ginecologistas obstetras e seis auxiliares de saúde bucal. Agora, com o término do contrato desses profissionais, a tendência é de o caos aumentar ainda mais nos postos de saúde de LOUVEIRA. Para se ter uma ideia, uma ginecologista somente terá horário em outubro e não estão sendo marcados novos horários.
NADA DE CONCURSO
Questionada sobre a questão do encerramento do contrato dos médicos, a Prefeitura de LOUVEIRA não se pronunciou. Porém, informações veiculadas pelas redes sociais dão conta que a Prefeitura de LOUVEIRA assinou contrato com uma empresa de Indaiatuba, para que esta assuma a organização do próximo concurso público. O contrato foi assinado em 3 de março deste ano, o que foi confirmada pela assessoria da Prefeitura. A vigência do contrato entre o município e a SHDias Consultoria e Assessoria Ltda será de 12 meses e a empresa ficará responsável pela organização e execução do certame que deve preencher as vagas já disponíveis no quadro de servidores municipais, além das que vagarem durante a validade do contrato, porém, até agora, nada. O último concurso público realizado pela Prefeitura de LOUVEIRA foi em 2012, com oito vagas nos cargos de médicos de diversas especialidades e um odontólogo. Na ocasião, os salários eram de R$ 4.140, ou de R$ 6.208, considerando a jornada de 20h ou 40h semanais.