LOUVEIRA: Suspeita de crime hediondo pode fechar laboratório da Santa Casa
A origem da palavra ‘hediondo’ está relacionada com qualquer coisa fedorenta, que cheira mal, mas também é usada para se referir a falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Alguns sinônimos de hediondo são asqueroso, abominável, bárbaro, cruel, repulsivo, etc. É tudo o que está supostamente acontecendo com um laboratório em LOUVEIRA, o Citolab, que presta serviço à Santa Casa e está sendo acusado por uma ex-funcionária da empresa, que por enquanto pede para ter o seu nome preservado por razões de segurança pessoal, de reutilização de frascos de coleta de fezes e urina para uso da população.
LAVAGEM DE FRASCOS
A ex-funcionária também informou que alguns dos frascos ‘lavados’ pelo laboratório foram levados até a ex-secretária Pâmela Mango que não tomou nenhuma providência. O mesmo procedimento foi usado com o ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde, Benedito Godoy, que além de não tomar providências afirmou que a funcionária ‘estava louca’, e quando uma médica também fez a mesma denúncia foi taxada de ser contra a Administração atual, e que por isso agia desse modo, acusando o laboratório que por ele “era considerado o melhor possível”.
MUITO BAIXO
Acontece que o Citolab ganhou a licitação supostamente por apresentar um preço muito baixo, mas não possuir sede própria em LOUVEIRA, nem veículo especial adesivado com informações sobre o que transportava. Os insumos humanos eram recolhidos e levados por uma funcionária em seu próprio carro, por um motoboy, e por enfermeiras e técnicos de enfermagem obrigados a fazer a logística de levar a pé o material do hospital para a base do laboratório, caracterizando abandono de posto no hospital.
SUBLOCAÇÃO
Segundo a testemunha ouvida pela Polícia, o procedimento de reutilização dos frascos é realizado até o momento atual. Ela trouxe fotos de frascos com resíduos de rótulos de identificação do uso anterior. E há cerca de um mês que o laboratório passou a funcionar no prédio da administração da Santa Casa, o que configura outro possível crime de extrema gravidade porque as instalações são inadequadas e funcionam no mesmo ambiente administrativo, que pode estar infectado. Os descartes de resíduos (como sangue e fezes) são realizados em pias e vasos sanitários comuns. Acionada, a Vigilância Sanitária se mostrou alheia ao fato de o laboratório, que presta serviço à Saúde do Município, e cujo endereço fica no Centro de LOUVEIRA, estar utilizando o prédio da Administração da Santa Casa cujo aluguel é pago com parte do dinheiro público que é enviado todo mês para a manutenção do hospital e que é da ordem de R$ 2,3 milhões. Portanto, a localização do laboratório no mesmo prédio caracteriza sublocação o que é, em tese, ilegal.
MTE
O Sindicato da Saúde de Campinas e Jundiaí encaminhou denúncia nesse sentido ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por causa dos fortes indícios de fraudes, exames por amostragem, faturamento fraudulento, falta de alvará sanitário, base fechada e uma série de irregularidades que podem levar à interdição do laboratório com a paralisação das atividades por alto risco à saúde pública de LOUVEIRA. Além da utilização de um prédio custeado pelo dinheiro público por empresa particular, as denúncias também falam da reutilização de frascos para a coleta de fezes e urina.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
Diante das denúncias, o ex-secretário de saúde de LOUVEIRA, Vítor Martinelli, e o vereador Estanislau Steck (PSD), com apoio do presidente da Câmara, Nilson Cruz (PRO), iniciaram um processo de investigação, e munidos das evidências encontradas estiveram na quinta-feira à tarde, 1º, na Delegacia de Polícia de LOUVEIRA onde registraram um Boletim de Ocorrência (B.O) com os documentos de denúncias de duas enfermeiras da Santa Casa de LOUVEIRA que foram enviadas ao Sindicato de Saúde de Campinas e Jundiaí, nos quais declaram que são ‘obrigadas’ a levar de hora em hora, e a pé, o material biológico coletado de pacientes até o laboratório que fica no outro lado da rua onde está situado o hospital.
OMISSÃO?
A procura pela Vigilância Estadual com sede em Campinas é porque existem indícios de omissão e tolerância por parte dos agentes de fiscalização da Vigilância Sanitária do Município de LOUVEIRA. O delegado Ruiter Matrtins, da Polícia Civil de LOUVEIRA, diante das denúncias apresentadas, inclusive o depoimento da ex-funcionária do Citolab, na tarde de ontem, sexta-feira, 2, resolveu dar início ao processo investigatório indo até a sede do laboratório que funciona no prédio da administração da Santa Casa, e no local entrou em contato com o gerente da empresa denunciada, Reginaldo Lopes, que abriu as portas do laboratório para que fosse feita a revista.
TRUCULÊNCIA
Tudo corria em paz, até que a nova administradora, Elaine Martins, surgiu de repente e não permitiu mais que a reportagem da FOLHA NOTÍCIAS continuasse fazendo o seu trabalho jornalístico alegando se tratar de um local privado e que por causa disso não seria permitido a presença da imprensa. Mesmo assim, cumprindo o seu dever de informar, o repórter tentou entrevistar a administradora que o repeliu afirmando não ter nada a declarar. Também os técnicos da Vigilância Sanitária se recusaram a falar com a reportagem indicando a assessoria de imprensa da Prefeitura como fonte de informação. Como o fechamento desta página ocorreu às 18h de ontem, e o depoimento da testemunha ainda não havia terminado, não foi possível contatar a Assessoria, que já havia encerrado o expediente na Prefeitura.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Ao deixar o prédio da administração da Santa Casa, o delegado Ruiter Martins atendeu gentilmente a reportagem da FOLHA declarando que a visita foi mesmo para fazer uma primeira vistoria no laboratório. “De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO) de quinta-feira, 1º, apuramos denúncias de que estariam ocorrendo irregularidades, tanto na área administrativa, de documentação, quanto por reuso de material biológico e descarte incorreto de material infeccioso. Como as denúncias tiveram certa gravidade e envolveriam a questão de saúde pública, achamos por bem fazer uma vistoria com base nesse boletim de ocorrência. Fomos recebidos pelo responsável do laboratório, olhei todas as instalações e não constatei in loco algo irregular. Veio também uma equipe da Vigilância Sanitária que nada encontrou. Colhemos alguns documentos, vamos analisar essa documentação e encaminhar para o Ministério Público para caso haja algo no âmbito além do criminal. Viemos apurar a possibilidade de crime, o que não foi verificado neste momento. Mas nada posso dizer no âmbito civil e administrativo porque não é da minha alçada”, entende o delegado Ruiter. As investigações continuam.