REGIÃO: Coluna de Jorge Lemos – ‘Linhas Cruzadas’
UMA CRÔNICA QUE VALE UM TEMPO
(Reprise de um texto escrito em 2008)
Mestre Carlos Drummond de Andrade, purista em seu texto, precisamente claro, certa feita confessou-me, quando o entrevistei, (sei lá quando, talvez por volta dos anos 50), que “a poesia é totalmente unida à estrutura semântica da linguagem musical”.
A frase me ficou martelando por dias a fio. Passei a buscar a correlação e o valor das palavras e toda a sua ordenação, observando a principalidade da língua no conjunto dos sistemas semiológicos; ou seja, comecei a procurar “pelo em ovo”. Para aliviar minhas dúvidas desenterrei os eruditos senhores defensores da construção verbal, todos os mestres da linguagem fática na oração principal. Nadei na estruturação semênica do idioleto e da pancronia, na análise da estruturação silábica. Confesso: comi amargo na busca do tal “sexo em anjos”.
Dias depois de queimar inteiramente a cuca, me encontro com o adorado amigo e Professor Antônio de Abreu Sodré, meu significativo mestre filólogo consagrado, homem sabedor das diferenças entre tropos e macrotropos e de todos dos elementos suprassegmentais, que sentiu pelo seu largo poder de alcance das vernáculas formas, que minha prolixidade fazia parte de certo desarranjo mental provocado pela semia, sim pela metade do entendimento que a mim foi proposto pelo mestre poeta Carlos.
Apertando meu ombro esquerdo com seus tenazes da mão direita, segreda-me: -“Mande tudo a merda! O poeta quis dizer: Se um poema não tiver ritmo e sonoridade, cadência e concordância não contem poesia”.Passei a entender mais a poesia como a manifestação da beleza; um quadro que fale a sua alma é poesia. Foi assim que me despertei para um outro sonho:
EXORCIZA-ME
O caminhar da garota
que vai para a praia
pisando macio
na larga calçada
é pura poesia.
O gingar dos quadris
Que inspira desejos
É letra de versos!
E o brilho do óleo,
Do sol refletido,
Na pele morena?
É pura poesia
Que invade minh´alma,
Que tudo me acalma
e me consome em desejos.
E o riso sonoro
Que sai de sua boca?
– Menina, tu é louca!
Tu corres perigo!
Não provoques tanto
Libere o encanto
De forma maneira.
Passeia… Passeia …
Deixe eu sentir o perfume
Desta carne cruel
Que revolve minha vida.
Exorciza-me querida…
pois vivo no inferno
Dos muitos desejos,
Eu quero seus beijos,
e morrer em você!

















