REGIÃO: Coluna de Jorge Lemos – ‘Linhas Cruzadas’
COM ALMA DE GENTE?
Talvez! Babú, o seu nome. Sobrevivente também de uma ninhada fora do esperado de uma velha cadela, que morreu dias depois de colocar quatro fracos filhotes no mundo. Quanto trabalho nos deu. Babú foi criada do mesmo modo que a irmã, também sobrevivente. Por ser a mais frágil foi rigorosamente alimentada a cada hora, quando cansativamente nos alternávamos, eu e a esposa, alimentando-as de acordo com as prescrições do veterinário. Lutadora Babú sobreviveu. Vida dura desde suas primeiras horas; o “tic-tac” de um velho despertador deu-lhe alento de vida como o bater do coração da cadela mãe que se fora.
Luta pela vida? Exemplo e vontade de viver? Compreendi que o animal faz da vida um instrumento de respeito a uma vontade maior, às vezes pouco compreendido por aqueles que se dizem humanos.
Estóica, Babú supera as dificuldades e transforma minha esposa como a verdadeira mãe. Sei lá! Talvez isto a tenha movido ao complexo de gente. Integra-se a família, usa os espaços comuns como próprios, destila ciúmes e, por mais incrível que possa parecer se comunica em todas as suas necessidades. Animal raciocina? Pensa ou se condiciona? Creio que Pavlov, com toda a sua sabedoria, viu o animal como animal e não procurou estudar suas reações fora do condicionamento. Se ele, o cientista, vivesse em nosso tempo eu o convidaria para alinhavar o comportamento e reações da Babú. Creiam: Babú age não por instinto, ela, pela limitação própria, impõe suas vontades, se comunica em suas necessidades, se manifesta em tempo presente, guarda ressentimentos e se comporta diferente de tudo que já se viu no meio animal: Babú fala. Linguagem incompreendida, mas fala. Os sons emitidos e os tons diferenciam-se à medida das suas necessidades. Quando aborrecida ou contrariada procura alguém para relatar, (este é o termo: relatar), o que sente. Ignora chamados quando lhe convém, especialmente quando pressente a vinda do Ricardo, o veterinário, que sempre lhe aplica as indefectíveis e dolorosas vacinas. Pior quando não pode fugir urina-se só por saber da presença do profissional. Pela manhã tem preferência, na hora do café, cercar-se a mim. Minha alimentação matinal lhe agrada mais, pois dialoga comigo e aproveita e partilha do que como. Dpois vai para a Stefany alimentar-se das frutas que ela saboreia. Curioso que só come as frutas que a “mãe postiça” lhe oferece. Se farta com o mamão, abacate, ameixa e as frutas. Faz destes momentos um verdadeiro ritual de comunicação. Hora da música, quando a mulher vai exercitar-se ao piano, sobe em uma cadeira e acompanha os exercícios. Curioso: ela tem preferência musical. Vai as lagrimas com “Berceuse” , “Pour Elise” e “Clair de Lune”. As demais peças musicais que não lhe agrada, uiva ou se afasta simplesmente. Interessante é seu comportamento quando pessoas estranhas estão na casa. Se pessoas lhe agrada permanece junto, caso contrário se recolhe a seu canto escuro e não se manifesta até que se vão. Interessante: só vai dormir depois de assistir, mesmo rapidamente, televisão.
Este comportamento é normal em animais? Tenho conversado com muitos. Acham-nos loucos. Não importa o que pensam, mas acho que a Babú pensa. Daí…

















