VINHEDO: Edu Gelmi: “Água da Fazenda Cachoeira é menos de 1%”
Ao contrário do que é propalado por um grupo político partidário de VINHEDO, a quantidade de água que pode ser obtida pelas nascentes que existem na Fazenda Cachoeira é praticamente nula, e representa menos do que é conseguido com a vazão de apenas um único poço artesiano.
A reportagem da FOLHA NOTÍCIAS esteve entrevistando o vereador Edu Gelmi (PMDB) que é o presidente da Comissão para Assuntos Relevantes, criada recentemente pela Câmara Municipal de VINHEDO para acompanhar o processo em torno de se encontrar uma solução para a área da Fazenda Cachoeira que já se arrasta há um tempo sem que uma solução tenha sido encontrada. Para o vereador, só após o estudo que está sendo realizado pela Oscip Elo Ambiental é que se poderá ter realmente uma noção mais apurada dos impactos que a área poderá sofrer com algum tipo de empreendimento e seus desdobramentos com relação à cidade, e qual das três propostas apresentadas até então pode ser a mais viável, tanto para o meio ambiente, para a empresa proprietária da Fazenda, para a população agora e as futuras gerações. Ele falou também da campanha difamatória sofrida pela Elo Ambiental.
FOLHA NOTÍCIAS (FN) – Vereador Edu Gelmi, o senhor como presidente da Comissão para Assuntos Relevantes da Câmara Municipal o que tem a dizer sobre a polêmica que se instalou em torno de uma solução para a Fazenda Cachoeira?
Edu Gelmi (EG) – “A discussão em torno da Fazenda Cachoeira podemos dizer que é centenária, porque tem a ver com a origem da cidade. Recentemente o povo ficou assustado com o fechamento da porteira que dá acesso à propriedade porque o vinhedense estava acostumado a caminhar no local, que além de belo, fazia parte do cotidiano dos moradores da cidade. Apesar de se tratar de uma propriedade privada, o povo tratava a área como a “nossa” Fazenda Cachoeira, como se pertencesse ao município. O fechamento da porteira teve um impacto muito grande na população, e a Câmara resolveu criar a Comissão para Assuntos Relevantes, a qual presido, para investigar o porquê do fechamento e acompanhar as ações em torno da situação da Fazenda Cachoeira. Então fomos à Prefeitura de VINHEDO onde começamos a investigar o caso enquanto enviamos à empresa Companhia Cachoeira, proprietária do imóvel, um ofício solicitando as razões para fechar a porteira e se poderia ser feito o escoramento da Casa Sede, bastante deteriorada e com sérios riscos de desabamento”.
FN – Foi a primeira vez que fecharam a porteira. A empresa apresentou o motivo da proibição do povo entrar na propriedade?
EG – “Sim, eles disseram que a autorização para a livre circulação de pessoas pela propriedade foi suspensa porque a segurança começou ficar comprometida com o surgimento de diversas ocorrências de furto, da presença de usuários de drogas, inclusive com ameaças aos funcionários da fazenda, o aumento muito grande de focos de incêndio, várias ameaças de invasão, e até mesmo a presença de caçadores de aves. Diante desse quadro, a posição unânime dos proprietários foi de restringir o livre acesso, mas as visitas monitoradas de caráter cultural e educativo continuam bem vindas e podem ser organizadas de comum acordo entre os interessados. Quanto ao escoramento da Casa Sede, a empresa garante que já está sendo providenciado”.
FN – Mas por que só agora resolveram tomar essas medidas com a Casa Sede, que está muito deteriorada?
EG – Acontece que em 2009 o ex-prefeito Milton Serafim, por meio do Decreto 135, de 26/8/2009, declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, 87% da área, incluindo a Casa Sede. Esse decreto congelou o imóvel por cinco anos, e durante esse tempo a desapropriação não aconteceu e ficaram inviáveis possíveis investimentos. Como o decreto perdeu a validade no começo de 2014 a empresa fez uma proposta à Prefeitura de VINHEDO se comprometendo a doar à Municipalidade cerca de 760 mil metros quadrados da fazenda, incluindo a área da Casa Sede e as matas remanescentes em troca da possibilidade de fazer um loteamento ambientalmente sustentável na área restante localizada na parte alta da propriedade onde praticamente só existe pasto. Mas para viabilizar essa proposta é preciso que se faça uma micro mudança no Plano Diretor de modo que as permitidas chácaras de 20 mil metros quadrados na área alta de pasto sejam substituídas por proibidos lotes de 1 mil metros quadrados, só possíveis na parte baixa margeando a lagoa”.
FN – E a proposta de compra da Fazenda por parte da Prefeitura de VINHEDO?
EG – “Para mim é a melhor proposta, mas, infelizmente, inviável por causa da situação financeira do município que perdeu cerca de R$ 15 milhões em arrecadação. A Comissão enviou ofício à Prefeitura procurando saber se havia interesse na compra da fazenda, e o prefeito Jaime Cruz respondeu que o interesse existe, mas o que falta mesmo é condição financeira, no momento, e nos próximos anos. É simples, não tem dinheiro para comprar a Fazenda”.
FN – Então das três propostas, uma já está descartada, a compra da Fazenda Cachoiera pela Prefeitura?
EG – Pelo menos é o que está bem claro na resposta que enviram. A primeira proposta é a que já está posta pelo Plano Diretor, permitindo que a empresa faça cerca de 120 lotes de 1 mil metros quadrados na margem da Represa 1, e em torno de 40 a 48 lotes de 20 mil metros quadrados na área alta, de pasto. Mas essa proposta não contempla em nada a municipalidade e nem precisa de mudança no Plano Diretor, já está permitida, é só começar o processo de implantação do loteamento. Mas a segunda proposta, a que foi apresentada pela Companhia Cachoeira à Prefeitura, traz uma contrapartida para a municipalidade que é uma área em torno de 760 mil metros quadrados, sendo 440 mil metros de área doada, 120 mil metros de área tombada, onde está a Casa Sede, e 200 mil metros de área de mata remanescente”.
FN – Dessas duas propostas, qual a mais prejudicial para o município e para a população vinhedense?
EG – Só podemos fazer uma avaliação do impacto no meio ambiente depois de concluído o levantamento que a Elo Ambiental está fazendo. Acredito que até o final do ano já teremos algum dado técnico definido, quando nada com relação à condição hídrica da área. Quero deixar bem claro que estou na defesa do meio ambiente, e não da empresa. Se a Elo Ambiental mostrar que não é possível fazer algum tipo de empreendimento, eu vou ser contra qualquer projeto para aquela área. Mas precisamos chegar a um denominador comum. O estudo da Elo Ambiental vai definir qual a melhor proposta, se a que é contemplada pelo Plano Diretor, ou se a que foi feita pela empresa de doar parte da fazenda, incluindo a Casa Sede e a área de mata remanescente. Mas para isso é preciso mudar o Plano Diretor. Para mudar, depende se VINHEDO vai ganhar ou perder. Se perde, não tem mudança no Plano, se ganha, então que se mude o Plano.”
FN – A proposta da empresa pode ser negociada?
EG – Claro, não se trata de algo fechado, a Prefeitura, a Câmara, o Ministério Público, e a população pode participar dessa negociação de modo que daí surja uma proposta que seja sustentável, que respeite os limites do ecossistema e seja boa para todos. Como os mananciais existentes são poucos, de 15 a 16 nascentes, com tão pouca vazão de água, com menos de 1% de participação em nossos mananciais, poderia se propor à empresa que construa uma represa na área das nascentes para ir aos poucos armazenando essa água. Nada pode se descartado em termos de recursos hídricos, principalmente nessa seca que enfrentamos”.
FN – O que o vereador pensa dos ataques que a Elo Ambiental vem sofrendo por parte de um grupo político organizado que atua na Câmara e em alguns setores da sociedade?
EG – “Inveja, maldade, falta de conhecimento da credibilidade da Elo Ambiental na região. São ataques covardes porque bem poderiam esperar que o trabalho ficasse pronto para então criticar, não dessa forma covarde. Acho estranho essa campanha difamatória contra a Elo Ambiental. Não sei quem está por trás disso. Que interesses estão sendo contemplados com essa campanha caluniosa contra a Elo? O próprio Ministério Público se manifestou favorável a que se faça algum tipo de empreendimento porque como está não pode continuar. Mas é possível perceber quais interesses estão por trás de tudo isso. É só reparar na proposta que foi lançada pelo grupo partidário que usa a Fazenda Cachoeira para fazer campanha política. Eles sugeriram a expropriação da área pelo prefeito. Seria viável se a fazenda fosse responsável por 30 a 40% da água consumida pela cidade. Aí se poderia pensar em excluir da empresa a posse da propriedade por meios judiciais mediante justa indenização. Mas com apenas 1% de água, não vejo como isso possa acontecer, afinal vivemos em uma democracia que ainda respeita a propriedade privada”.
FN – Se a água existente na Fazenda Cachoeira é tão pouca, 1%, por que tem pessoas afirmando que se trata da ‘caixa d água’ de VINHEDO, da grande reserva de água do município, enquanto que os poços artesianos, que fornecem mais de 13% de água são combatidos de forma sistemática, para não dizer fanática?
EG – “Realmente, a água da Fazenda Cachoeira é muito pouca, quase nada, não vejo o porquê dessa celeuma toda, é tudo mentira, boataria, falta de informação, ou simplesmente má-fé. Os poços artesianos são uma realidade e estão sendo abertos em vários municípios, inclusive em São Paulo, só aqui em VINHEDO existe essa campanha mesquinha contra os poços por total ignorância sobre os mesmos ou por puro interesse político partidário. Eu estou aqui para trabalhar com relação à gestão, a questão partidária não me interessa. Como vereador minha postura deve ser crítica, mas propositiva, tenho que apresentar propostas, destruir é muito fácil, difícil é construir, para fazer um espelho dá muito trabalho, mas para quebrar, basta jogar uma pedrinha e tudo se desfaz. Tem pessoas que preferem quebrar espelhos em vez de construí-los. Eu prefiro construir.
FN – A Prefeitura poderia construir um moderno Centro Administrativo na área doada com a nova Prefeitura e secretarias, a nova Câmara, o novo Fórum e uma nova Guarda Municipal?
EG – A princípio não acho que seja uma área adequada para se construir um Centro Administrativo, geograficamente pode ser possível, mas em termos de mobilidade urbana pode trazer problemas. A priori a área daria um belo Parque Municipal para o amplo lazer da população. Mas qualquer solução passa pelo estudo da Elo Ambiental.