VINHEDO: Gestão e formato da Festa da Uva viram ‘pomo da discórdia’ entre os vereadores
Juro que a 116ª Sessão Ordinária da 16ª Legislatura de VINHEDO, na última terça-feira, 13, pós-feriado e dia de jogo da Seleção Brasileira contra a Venezuela, era pra ser uma sessão tranquila e rápida. Porém, a coisa começou a desandar logo de cara. A sessão começou atrasada, já passando das 18h08, quando então o presidente da mesa, Márcio Melle (PSB), logo após a leitura do trecho da Bíblia, anunciou a suspensão dos trabalhos por 10 minutos, que depois se transformaram em 20, para a discussão de dois requerimentos de autoria de Valdir Barreto (PSOL), na Ordem do Dia, para votação única. Um deles solicitando informações sobre a situação da Santa Casa, e outro pedindo a cópia do processo administrativo do DER/SP que prevê a interligação do bairro três Irmãos com a Estrada da Boiada, por meio da canalização do Córrego Sterzeck e pavimentação da rua Montevidéu.
De volta ao plenário, todos devidamente sentados em suas cadeirinhas, recomeça a sessão e o andamento da pauta. Mas não é que uma Moção de Apelo, de autoria de Valdir Barreto (de novo ele!), subscrita por alguns vereadores, pedindo que a Prefeitura realize mudanças na gestão da Festa da Uva, concedendo ainda a administração do evento à Federação das Entidades Assistenciais de Vinhedo (Feavin) virou o pomo da discórdia entre os edis? Após a leitura da justificativa, mais de uma hora de embates entre situação e oposição a respeito do assunto, para terminar com a aprovação da moção por nove a cinco (Nil Ramos (PROS), Rubens Nunes (PR), Marcos Palmeiras (PV), Ana Genezini (PTB) e Val Souza (PTB)).
As posições foram emblemáticas. Os que concordaram com a moção, criticaram os altos preços das atrações musicais em detrimento das opções locais de artistas vinhedenses; a praticamente inexistência de participação de agricultores e produtores de fruta originários da cidade; a falta de quadro administrativo para a Acovec tocar a festa sem ter que terceirizar para uma empresa de fora; o pequeno repasse que é feito à entidade; e ainda que, com a Feavin, a situação pode se alterar gerando mais recursos para os projetos sociais, menos impacto na cidade e trazendo a festa para um ambiente mais familiar. “Defendo um modelo de Festa da Uva radicalmente diferente do que existe hoje e acho que ele vai levar à extinção desta festa. Quero um modelo autossustentável, ou seja, que com o que se arrecada, se pague a festa. Os lucros hoje são privatizados e os prejuízos, estatizados. É um modelo indefensável, uma aberração, é falido. De onde vem as uvas da festa? De várias localidades, menos daqui. Não temos quase produção para apresentar. Acaba que a festa estimula os produtores de fora da cidade”, argumentou o vereador Rodrigo Paixão (Rede).
Os que defenderam parcialmente o trabalho desenvolvido na festa, e que votaram contra a moção, lembraram que o modelo já foi bastante satisfatório para a cidade em outras épocas, mas reconheceram que as mudanças são bem-vindas, principalmente por conta da crise econômica. Porém, não apenas a troca de uma entidade para outra, enfatizando que o assunto deve ser discutido com todas as entidades, respeitando o trabalho de cada uma. Sobre os shows mais caros, Nil Ramos lembrou que muitas pessoas têm apenas aquela oportunidade, muitas vezes, para assistir a seus ídolos e que uma sugestão é dar gratuidade a quem apresentar o Cartão Cidadão de VINHEDO. “Acho válida a moção, pois a Feavin merece todos os aplausos da cidade. Não há discussão sobre a credibilidade da federação. A Acovec também é membro da Feavin. Eu concordo em mudanças do modelo de gestão da festa. Acho que as instituições devem ‘dividir o pão’, mas colocar a Acovec nesta posição, como se fosse ‘culpada’ de alguma coisa, me parece uma indelicadeza, uma vez que eles cumprem um pedido da própria Prefeitura sobre a estrutura e tamanho da festa.”, garantiu o edil Paulinho Palmeira. Alexandre Viola (PPS) resumiu a posição dos contras “Estamos a favor de uma revisão do modelo da festa e gerenciamento, o problema é o teor, a forma como foi feita a moção.”
Depois de praticamente quase todos os parlamentares se manifestarem, a moção foi aprovada. No seguimento da pauta, na Ordem do Dia, Valdir Barreto retirou seu requerimento que pedia informações sobre o andamento dos trabalhos da Santa Casa desde a intervenção. “Retiro o requerimento porque, gentilmente, meu colega Nil Ramos se comprometeu a me trazer essas respostas em no máximo 20 dias”, justificou. Já o outro requerimento sobre a interligação do bairro Três Irmãos com a Estrada da Boiada foi aprovado.
CASO DO ‘FRANGO OSTENTAÇÃO’
Na fase da explicação pessoal, o vereador Valdir Barreto retomou o assunto sobre a denúncia de superfaturamento da merenda escolar, o famoso ‘frango ostentação’, que fez VINHEDO ser estrela de um dos quadros do programa CQC, da emissora Bandeirantes, projetando o município negativamente no cenário nacional. Segundo o edil, ele, Paixão e Marta Leão, estiveram no Ministério Público Federal para consultar o processo. “Somos muito cobrados, pois encaminhamos a denúncia. Tivemos acesso ao processo e verificamos que já existe um laudo conclusivo, que está na Controladoria Geral da União, comprovando irregularidades nos processos analisados e superfaturamento na contratação de três fornecedores, acarretando em prejuízo potencial mínimo de R$ 8.785, milhões”, anunciou. “E aí quando se fala em redução de vereadores, será que a motivação é a crise econômica realmente ou tentar diminuir o poder de fiscalização?”, questionou.
Rodrigo Paixão e Marta Leão bateram também no assunto. “O governo foi avisado por vereadores desta Casa, e mesmo assim não rescindiu o contrato com essas empresas. Alguém vai ter que devolver esse dinheiro”, bradou Rodrigo Paixão. “Nós somos cobrados direto por esse assunto e muitos ainda duvidam desse superfaturamento. Mas ele está comprovado, e o valor é o dobro do que tínhamos estimado. Havíamos apurado apenas dois contratos e agora o processo dá conta de que são três. Realmente, a Casa precisa cumprir o seu papel. O péssimo serviço do Executivo foi pego por esta Casa Legislativa”, complementou Marta Leão (PSB) na sua vez.