VINHEDO: Padre Carlos (o Padre Sorriso) assume a Paróquia São Sebastião e fala sobre desafios e fé

Convocado para substituir o carismático Padre Lima, que por dezessete anos comandou em alta velocidade a paróquia de São São Sebastião, no Bairro Nova VINHEDO, em VINHEDO, o padre Carlos José Lemos Nascimento concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem da FOLHA NOTÍCIAS onde conversou um pouco sobre a sua trajetória religiosa, sua descendência portuguesa, seu amor a Deus, aos fiéis, à gastronomia, sua tendência mais ‘slow’ (calma) e suas primeiras impressões nos contatos iniciais com o povo vinhedense.

Padre Carlos

FOLHA NOTÍCIAS (FN) – Padre Carlos, como começou sua carreira religiosa?
Padre Carlos (PC) – “Sou natural de São Paulo, capital, e descendente de portugueses, de uma família católica cujo pai é de Traz Os Montes e a mãe da Ilha de Madeira, terra do craque português Cristiano Ronaldo. Em 1989 houve a divisão na Arquidiocese de São Paulo e eu fiquei na Diocese de Campo Limpo sendo ordenado no dia 2 de dezembro de de 1995 por Dom Emílio Pignoli, hoje emérito (aposentado). Mas a minha vocação começou aos 15 anos em Campo Limpo sob os cuidados do padre Eduardo Ramos, um padre muito zeloso com as vocações.

FN – Qual a sua paróquia inicial?
PC – A Paróquia São José Operário em Campo Limpo foi a minha paróquia de origem. Dos 14, 15 anos aos 19 eu participei de diversos encontros vocacionais. Aos 20 anos entrei no Seminário de Filosofia no Ipiranga, saí, voltei, dei aula, fiz psicologia, parei, voltei ao seminário, fiz Teologia e me ordenei padre. Depois de 5 anos voltei a fazer psicologia e me formei em psicologia clínica porque achei necessário, muito por causa da demanda de pessoas procurando orientação psicológica, o aumento da ansiedade gerando outros problemas como a depressão e o imediatismo.

FN – Como o senhor padre vê esses problemas do ponto de vista da religiosidade?
PC – Tudo hoje é muito rápido, as pessoas não sabem esperar, é o whatsApp, se os dois tracinhos não ficaram azuis gera uma ansiedade, todos querem uma resposta rápida, imediata, não tem paciência, querem tudo muito rápido e esquecem o processo das coisas. A tecnologia criou pessoas que adoecem por conta do ativismo, da correria, da rapidez das informações, é uma sociedade imediatista atingindo tudo inclusive a religião.

FN – Como assim?
PC – As pessoas colocam Deus para fazer o que elas querem, e não sentem vontade de fazer a vontade de Deus. Esquecem que o processo faz parte da vida, que Deus tem o Seu próprio tempo, e o que Ele quer para nós muitas vezes não é o que nós queremos. Precisamos ter paciência evangélica, observar o tempo de Deus, respeitar esse tempo sem querer ajudar a Deus ou fazer no lugar Dele. Temos o exemplo de Sara que não esperou e quis ajudar Deus, o que acabou gerando um grande problema que dura até hoje.

FN – Fale de sua vinda para Campinas. Sentiu algum choque em vir morar em uma cidade bem menor que São Paulo?
PC – Quando vim para Campinas imaginei ir para uma paróquia do interior, uma cidade pequena, mas Campinas é uma metrópole, é uma cidade grande, como VINHEDO, VALINHOS, JUNDIAÍ. Na verdade não foi um choque muito grande.

FN – Com apenas uma semana, já deu para ter alguma impressão de VINHEDO?
PC – Sim, em uma semana já deu para perceber o quanto o povo dessa cidade à acolhedor, muito simpático, caloroso, receptivo, e isso é muito bom. Estou no início de uma adaptação à paróquia e de a paróquia ir se adaptando ao padre. Afinal foram 17 anos de Padre Lima, espero dar continuidade ao trabalho, e para isso preciso conquistar esse povo que o ama. E isso é um grande desafio para mim. Estou iniciando o processo de otimizar o trabalho de evangelização, aqui tem vários movimentos importantes para a comunidade, preciso agregar o que for necessário para a paróquia, incrementar o trabalho sacramental, ver o que está faltando, o povo procura a igreja porque tem missa todo dia a partir das sete horas da manhã e o pessoal gosta disso.

FN – Algum projeto novo que pretende trazer para VINHEDO?
PC – Sim, quero trazer o ‘Encontro de Jovens com Cristo’ que faz parte do processo de evangelização do jovem para o jovem, o que já vem sendo feito em outras paróquias.

FN – Poderia citar alguma característica sua mais positiva e uma nem tanto (risos)?
PC – (Risos) Uma característica forte em mim é a minha alegria. Em alguns momentos sou chamado de Padre Sorriso (mais risos). Por outro lado gosto de organização, agenda, planejamento, o que alguns podem achar que sou meio chato por isso (risos).

FN – E na igreja, qual a sua tendência?
PC – Me considero um padre mais moderado. Porque tem coisas na igreja em que ela é progressista, precisa ser progressista, e em outras que ela tem que conservar, como o Evangelho, por exemplo. A Liturgia é tão rica e tão bela que fica difícil ter algo para mudar. E é preciso seguir a normativa da Arquidiocese. Sou mais pelo Papa Francisco, mas compreendo o estilo do Papa Bento XVI que foi professor a vida inteira. O Papa Francisco foi pastor, é o Papa da Misericórdia. Para mim existem três tendências majoritárias, a mais progressista, a mais conservadora e a mais moderada. Fico entre o moderado e o progressista.

FN – E o seu recado inicial aos fiéis da paróquia de São Sebastião e de VINHEDO?
PC – Meu recado é no sentido de que procurem cada vez mais a Deus, focar Nele que é o mais importante para a nossa vida, que é dom de Deus, e que deve ser vivenciada na presença plena Dele. Estou aqui para mobilizar as pessoas no sentido da procura de Deus, de levar a boa nova que é o evangelho de Cristo. Meu lema de ordenação é “Já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim” (Gálatas 2:20). Portanto, que nos unamos no processo de evangelização. Estamos aqui para santificar, orientar na procura de Deus. Espero contribuir nesse sentido.

FN – Entre o amor e a salvação, o que o ser humano mais precisa?
PC – Precisamos intensificar a Fé. A Fé, o Amor e a Esperança são virtudes teologais. Mas não espere que Deus faça tudo o que queremos para então fazermos a vontade de Deus. “E que seja feita a Sua vontade, assim na terra como no Céu”. Como Maria Fez : “Seja feita em mim a Sua vontade”. Se Cristo rezava o tempo todo para o pai procurando uma resposta, imagine nós, seres humanos pecadores, precisamos mais que ninguém entregar a Deus as nossas vidas diariamente para que Ele faça em nós a Sua vontade.

FN – A tendência atual é “você tem poder dentro de você”, “eu tenho a força”, “não preciso de Deus, eu sou Deus”, e por aí. Como o senhor vê essa tendência auto ajudadora e auto enganadora?
PC – Isso é porque tem o problema da prepotência, da arrogância humana de se colocar igual ou acima do Criador, querendo usurpar o lugar de Deus, esquecendo que somos meras criaturas. Achamos que temos algum valor, mas Cristo é quem nos valorizou na Cruz. Não temos valor algum a não ser o que Cristo colocou em nós dando a Sua vida na Cruz. Precisamos alimentar e aumentar a fé, mas não uma fé infantil ou a fé utilitária que ensina “só vou fazer se Deus fizer por mim”. Façamos como Cristo, que coloca tudo o tempo todo nas mãos do Pai.

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