VINHEDO: Proprietários da Fazenda Cachoeira convidam a ‘oposição’ para o diálogo

Reunião foi fechada ao público, que teve que esperar do lado de fora da Câmara
Em reunião realizada na quinta-feira, 26, na Câmara Municipal de VINHEDO coordenada pela Comissão de Assuntos Relevantes para a Fazenda Cachoeira que tem como presidente o vereador Edu Gelmi (PMDB), a Elo Ambiental apresentou o laudo técnico que realizou sobre a Fazenda Cachoeira para os vereadores.
Na reunião, fechada para o público, estiveram presentes o Ministério Público, na pessoa do promotor Rogério Sanches, o Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente), representado pelo seu presidente Amadio Cremonese, a Prefeitura Municipal, na pessoa do secretário de Governo, Pedro Cahum, e do secretário de Meio Ambiente e Urbanismo Gil Lourenzon, e a imprensa local. Também presentes os vereadores Rubens Nunes (PR), Paulinho Palmeira (PSB), Aparecido Bacural (PTB), Marta Leão (PSD), Rodrigo Paixão e Valdir Barreto, ambos do PSOL. Mais uma vez a apresentação do laudo foi conduzida pelo biólogo Mário Pires e pelo ambientalista Roberto Piccolo.
DEBATE EM ALTO NÍVEL
Como o conteúdo do laudo foi o mesmo apresentado para os integrantes do Comdema, a expectativa se concentrou no debate entre os participantes, que ocorreu em alto nível, e na apresentação do projeto elaborado pelos proprietários da Fazenda Cachoeira, o que não aconteceu devido ao pouco tempo entre a conclusão do laudo e a elaboração do projeto de desmembramento da área observando os parâmetros reais levantados.
RADICAIS FORA
Do lado de fora, na rua e na recepção da Câmara, um grupo radical ligado a um partido de oposição ficou tentando tumultuar a reunião, aos berros, gritando coisas desconexas, assustando a quem passava, e atrapalhando o andamento da reunião. O grupo esteve a ponto de interromper os trabalhos em franco desrespeito para com os presentes, até que, de forma enérgica, o presidente da Comissão, Edu Gelmi, solicitou à Guarda Municipal que impedisse os gritos e apitaços, mas garantindo a permanência de quem quisesse ficar no local de forma educada e civilizada, com o objetivo de discutir o relatório, colocando propostas e expondo sua posição. A maioria, mesmo do lado de fora, continuou expondo cartazes e ‘narizes de palhaço’ contra as portas de vidro que separam o plenário e a recepção do Legislativo.
PLANO DIRETOR
Acompanhado por seus sócios Marco Antonio Peloso, Ricardo Ferreira e Nelson Lopes Ferrara, Cassio Caccia lamentou o projeto de sua empresa não ter sido concluído a tempo para a reunião, mas reiterou o objetivo dos proprietários de que seja permitida uma modificação pontual no Plano Diretor de VINHEDO permitindo o desmembramento da área no alto do imóvel onde só há pasto, em lotes de mil metros quadrados no lugar do que está permitido, lotes de vinte mil metros, o que considera altamente lesivo ao meio ambiente e à cidade por permitir que sejam desmembrados em quatro lotes de cinco mil metros, o que acarretaria no surgimento de chácaras com plantio de hortas utilizando agrotóxicos e a realização de festas raves prolongadas com uso de substâncias tóxicas. Outro aspecto negativo citado pelo sócio-proprietário Cassio Caccia é que com a possibilidade de proliferação de pequenas chácaras isso traga prejuízos à mobilidade urbana por causa da intensificação do tráfego, não só de veículos de passeio, mas também de veículos pesados, a exemplo de tratores, máquinas agrícolas de pequeno e grande porte, e caminhões.
Para Cassio, a cidade será contemplada com cerca de 2/3 da área total, algo em torno de 1 milhão de metros quadrados, e que a área de desmembramento é de quase 700 mil metros quadrados, com cerca de 300 mil metros para o arruamento, restando então perto de 400 mil metros quadrados para a implantação de um condomínio. “Nunca, em 30 anos trabalhando como engenheiro no setor imobiliário vi algo parecido, o proprietário ceder 2/3 da área para o município em contrapartida à instalação de algum empreendimento. Além de contemplar apenas um lado, o município, que é benefiado em tudo, duvido que os proprietários ao redor queiram fazer o mesmo que nós, o que pode servir de parâmetro para a elaboração de uma lei sobre a ocupação das terras naquele setor”, sugere.
PROMOTOR PERGUNTA
O promotor Rogério Sanches fez uma série de perguntas atinentes à correta informação sobre aspectos como o número exato de nascentes encontradas, segundo Roberto Piccolo em torno de sete, quem arcaria com o passivo ambiental e da Casa Sede, Prefeitura ou proprietários, tendo o secretário Pedro Cahum admitido que Prefeitura só aceitaria qualquer proposta sem os passivos ambiental e da Casa. Perguntou sobre a capacidade da represa que será construída, se só para servir aos moradores do condomínio ou vai sobrar água para a população, condição essa que foi confirmada pelos proprietários. Rogério Sanches também quis saber se a APP (Área de Preservação Permanente) vai compensar a reserva legal, o que também foi confirmado pelos ambientalistas da Elo. Em outra pergunta referiu-se a como a Câmara vai trabalhar com o precedente aberto para a área quanto ao possível desmembramento que também será reivindicado pelos proprietários em torno, com a existência de várias situações nesse sentido, mas ficou sem conclusão, porém alertou que qualquer tipo de parcelamento na área não poderá ser fechado. O promotor ainda perguntou se a Prefeitura poderia comprar a área, o que foi negado por Pedro Cahum, lembrou de uma divulgação na internet de um Condomínio Fazenda Cachoeira, sendo explicado se tratar de algo muito antigo feito pela empresa Cita ao fazer o primeiro levantamento da fazenda, e, por fim, o porquê de a Elo Ambiental, que antes se mostrava contra qualquer intervenção na área, agora estava abertamente a favor do desmembramento, sendo rebatido pelo presidente da Elo, Vitório Zottino, que negou qualquer posicionamento da empresa a favor ou contra, mas limitando-se a dar um parecer meramente técnico, sem juízo de valor.
Vitório mostrou-se irritado com o fato de que diretores da Elo tenham sido colocados sob suspeita em plena sessão da Câmara por um vereador que, segundo ele, foi eleito utilizando a Elo Ambiental e o meio ambiente, garantindo que os integrantes da Elo tem opinião própria, sem um pensamento centralizado, e por isso mesmo democrático, com cada membro opinando de forma independente sobre os assuntos em pauta.
ROMANTISMO
O presidente do Comdema, Amadio Cremonese, chamou atenção para a tentativa de se ‘romantizar’ o problema criando uma atmosfera que não bate com a realidade através de meias verdades e informações infundadas, como tem acontecido nas redes sociais e presencialmente através de grupos radicais sem a devida informação sobre as pautas levantadas na cidade.
“E se os proprietários desistirem e forem embora, quem vai se responsabilizar pela Fazenda? Não adianta romantizar, idealizar, tem que trabalhar com a realidade”, sendo então respondido pelo promotor Sanches afirmando não ser possível à empresa proprietária abrir mão de sua responsabilidade social sobre a área e tão pouco de um bem onde muito já foi investido.
DIÁLOGO
A intransigência dos vereadores da oposição em não admitir a hipótese do desmembramento foi amortizada pela colocação de Cassio Caccia de que os proprietários admitem vender a fazenda ao preço de mercado porque o desmembramento não é a única solução para o problema. Para surpresa de todos convidou os oposicionistas a sentarem com a Empresa Fazenda Cachoeira no sentido de que seja, dessa maneira, encontrada a solução que contemple todos os interessados, já que os interesses dos dois lados são os mesmos, tornar a Fazenda Cachoeira um bem para os vinhedenses, hoje e para as futuras gerações.
Cassio, o sócio representante da Fazenda, também garantiu que logo o projeto de ocupação esteja pronto será convocada uma nova reunião, e caso surja um entendimento inicial, o próximo passo seria uma Audiência Pública para que a sociedade vinhedense possa se manifestar ampliando o debate e as possibilidades de uma solução que contemple principalmente os interesses de VINHEDO.
“Quero, mais uma vez, deixar claro que estamos aqui, com boa vontade, para efetivar um trabalho conjunto com a comunidade vinhedense e suas autoridades. Se os vereadores, que ainda não entenderam o projeto, quiserem se reunir com a Empresa Fazenda Cachoeira para expor mais propostas, estaremos abertos ao diálogo para chegarmos a um denominador comum entre todas as partes”, finalizou Cassio, com olhar direto aos vereadores de oposição, Valdir e Rodrigo Paixão, que preferiram não responder ao chamado da Empresa Fazenda Cachoeira e da equipe da Ong Elo Ambiental.
Pelo jeito, o debate sobre o destino da Fazenda Cachoeira, vai ser longo e cansativo.